PF investiga deputado Júnior Mano por suspeita de fraudes em licitações e desvio de recursos no Ceará.

Junior Mano deputado

Operação cumpre mandados na Câmara dos Deputados e em municípios cearenses; deputado do PSB nega envolvimento, mas é alvo de apuração sobre organização criminosa que teria financiado campanhas eleitorais com dinheiro público.

A manhã desta terça-feira, 8 de julho de 2025, começou com movimentação intensa nos corredores da Câmara dos Deputados, em Brasília. A Polícia Federal cumpriu mandados de busca e apreensão no gabinete do deputado federal Júnior Mano (PSB-CE), no contexto de uma operação que investiga um amplo esquema de fraudes em licitações, desvio de recursos públicos e financiamento ilegal de campanhas eleitorais municipais realizadas em 2024 no Ceará.

A ação, autorizada pelo ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), visa desarticular uma organização criminosa que, segundo a investigação, atuava de forma articulada entre prefeituras, empresários e agentes políticos, com o objetivo de desviar verbas públicas destinadas a municípios cearenses. Os valores desviados, de acordo com os investigadores, teriam sido utilizados para abastecer campanhas eleitorais de aliados do grupo.

Alvo direto da PF.

O principal nome político apontado na operação é o do deputado federal Júnior Mano, que teve não apenas seu gabinete inspecionado, mas também endereços ligados a ele no Ceará e no Distrito Federal visitados por agentes federais. Em nota oficial, o parlamentar declarou:

“Não tenho qualquer participação em processos licitatórios, ordenação de despesas ou fiscalização de contratos administrativos. Confio plenamente na Justiça e me coloco à disposição para quaisquer esclarecimentos.”

Apesar da negativa, a PF informou que há indícios robustos de que o congressista tenha influência direta sobre repasses de recursos e sobre a articulação com empresas ligadas ao grupo investigado.

A operação e seus alvos.

A ofensiva da PF teve desdobramentos em Brasília e em cinco cidades do Ceará: Fortaleza, Nova Russas, Eusébio, Canindé e Baixio. Além do deputado, outros cinco investigados foram alvos de busca e apreensão, com ordens judiciais atingindo tanto pessoas físicas quanto jurídicas. No total, foram cumpridos 15 mandados de busca e apreensão.

Entre as medidas autorizadas pela Corte, também estão a quebra de sigilo de aparelhos celulares apreendidos e o bloqueio de cerca de R$ 54,6 milhões em contas bancárias. A finalidade, segundo a Polícia Federal, é interromper a circulação de valores de origem ilícita e garantir a reparação futura ao erário.

Como funcionava o esquema, segundo a PF.

De acordo com os investigadores, a organização criminosa operava por meio do envio de verbas públicas para municípios cearenses previamente escolhidos. Parte dessas verbas, que deveriam ser usadas em obras, serviços e programas sociais, era desviada para pagamento de propinas, financiamento de campanhas políticas e contratos simulados.

A forma de operação envolvia fraudes em licitações com a participação de empresas vinculadas ao grupo investigado. Essas empresas venciam certames de maneira direcionada e, em troca, parte dos valores era repassada ilegalmente a agentes públicos e políticos.

As principais acusações envolvem os crimes de:

Organização criminosa;

Lavagem de dinheiro;

Falsidade ideológica com fins eleitorais;

Captação ilícita de sufrágio (compra de votos).

A Controladoria-Geral da União (CGU) prestou apoio técnico à investigação, o que permitiu mapear movimentações financeiras incompatíveis e vínculos entre os envolvidos.

Ponto de partida da investigação.

A apuração teve início na Superintendência Regional da Polícia Federal no Ceará, após uma denúncia da Prefeitura de Canindé. A administração municipal relatou movimentações suspeitas relacionadas a contratos públicos. 

A partir daí, investigações preliminares revelaram indícios de uma rede bem estruturada, que operava com apoio de autoridades com prerrogativa de foro — o que fez com que o caso fosse encaminhado ao STF.

O município de Canindé aparece como um dos principais focos do esquema, tendo sido identificado como ponto de escoamento de recursos federais desviados. Outros municípios como Nova Russas, cidade de origem do deputado Júnior Mano, também estão na mira das autoridades.

O impacto político.

A operação desta terça-feira abala não apenas a imagem do deputado Júnior Mano, mas também do PSB, partido ao qual ele é filiado. A legenda, que tenta se firmar como força de centro-esquerda em estados do Nordeste, ainda não se pronunciou oficialmente sobre o caso.

Nos bastidores do Congresso, a movimentação gerou apreensão. Parlamentares de diferentes partidos temem que novos desdobramentos atinjam outras lideranças, especialmente em um momento em que as investigações federais têm intensificado o cerco contra o uso indevido de verbas públicas em ano eleitoral.

Sigilo quebrado e bens bloqueados.

Um dos aspectos mais relevantes da decisão judicial autorizada por Gilmar Mendes foi a quebra de sigilo dos aparelhos celulares apreendidos durante a operação. A expectativa é que o conteúdo armazenado nesses dispositivos revele diálogos comprometedores, repasses financeiros não declarados e provas materiais do envolvimento dos investigados.

O bloqueio de R$ 54,6 milhões também chama atenção pelo volume e pela abrangência: as contas bloqueadas pertencem a pessoas físicas e jurídicas diretamente relacionadas ao grupo criminoso. A medida visa evitar que recursos ilegais continuem sendo movimentados e, ao mesmo tempo, assegurar o ressarcimento do dinheiro público desviado.

Histórico do deputado.

Júnior Mano, nascido em Nova Russas (CE), é empresário e cumpre seu segundo mandato na Câmara dos Deputados. Ele ganhou projeção política por atuar como articulador de recursos para cidades do interior do Ceará, tendo forte base eleitoral na região do Sertão de Crateús.

Aliado de prefeitos locais, Júnior Mano construiu sua carreira política com o discurso de renovação e compromisso com o desenvolvimento regional, especialmente na área da infraestrutura e saúde. No entanto, a suspeita de envolvimento em um esquema de desvio de verbas públicas contrasta com a imagem que o deputado cultivava junto aos seus eleitores.

Próximos passos da investigação.

A Polícia Federal informou que os trabalhos estão em andamento e que novos desdobramentos não estão descartados. As diligências desta terça-feira servem como base para a construção de um inquérito robusto, com possível oferecimento de denúncia por parte do Ministério Público Federal nos próximos meses.

O conteúdo obtido por meio das buscas será analisado por peritos da PF e poderá embasar novas ações, inclusive a solicitação de prisões temporárias ou preventivas, caso seja comprovada a atuação continuada do grupo criminoso.

Considerações finais.

A operação contra o deputado Júnior Mano é mais um capítulo na luta contra a corrupção e o desvio de recursos públicos no Brasil, especialmente em períodos eleitorais. O caso evidencia a fragilidade dos mecanismos de controle nos repasses de verbas públicas a prefeituras e a necessidade de maior transparência nos processos licitatórios e nas campanhas políticas.

Enquanto o deputado nega qualquer participação no esquema, as investigações avançam sob os olhares atentos da sociedade e da imprensa. O desfecho desse caso poderá não apenas determinar o futuro político de Júnior Mano, como também trazer consequências profundas para a relação entre agentes públicos e o uso de recursos federais em campanhas municipais.

A sociedade espera que os culpados sejam responsabilizados e que o dinheiro público seja devidamente recuperado e aplicado onde realmente importa: no bem-estar da população.

Nota oficial do deputado Júnior Mano (PSB-CE):

“Não tenho qualquer participação em processos licitatórios, ordenação de despesas ou fiscalização de contratos administrativos. Reafirmo minha confiança na Justiça e me coloco à disposição para colaborar com todas as investigações, certo de que a verdade prevalecerá.”

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